Dezenas de raias e tubarões que surgiram misteriosamente em área de mata foram abandonadas para ‘ocultação’, aponta análise

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Uma nota técnica elaborada por profissionais do Instituto Biopesca concluiu que as dezenas de raias e tubarões que surgiram de forma misteriosa em uma área de mata em Peruíbe, no litoral de São Paulo, foram depositadas propositalmente no local com o objetivo de ocultação. Informações do coordenador-geral do Biopesca, Rodrigo Valle, afirmou, nesta sexta-feira (7), que, pela variação da maré, não teria como os animais terem encalhado naturalmente ali. “Essas carcaças foram transportadas e transferidas. Quando é um encalhe natural, a gente não vê esses animais agrupados e colocados da forma como estavam”.

O Fato.

Em 23 de dezembro, 55 raias ticonha, a maioria da espécie Rhinoptera bonasus, três tubarões-martelo (Sphyrna) neonatos e uma raia móbula (Mobula sp) foram encontrados sem vida por membros da Aldeia Tapirema, que contataram as autoridades para remove-los do local. O Instituto Biopesca foi acionado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Peruíbe para recolher as carcaças.

Segundo Valle, aspectos como a manipulação, o fato de as carcaças estarem agrupadas e a maré levaram à conclusão da nota técnica. “A gente olha todos esses aspectos, a distância do local até a linha da água, o quanto que tem de faixa de areia, até onde a maré avança quando ela sobe, e a disposição delas no local. Essas análises indicam que essas carcaças foram colocadas lá propositalmente, porque condições para que isso ocorresse naturalmente não existem no local”.

Ele reforça que não há como saber a distância do local onde esses animais teriam sido pescados. “A distância de onde vieram a gente não tem como afirmar, agora, a gente sabe que, a partir do momento que há uma tentativa de ocultação, isso não deve vir de muito longe. Ninguém vai ficar transportando todas essas raias correndo o risco de ser pego, então, a lógica nos indica que esses animais foram retirados ali perto”.

Análise das carcaças

Além do local onde as raias e tubarões foram encontrados, as carcaças desses animais também foram analisadas, de forma individual. Segundo o relatório, as carcaças encontravam-se no mesmo estágio de decomposição, “o que indica que elas são de uma mesma ocorrência, porque elas morreram no mesmo momento, e como estavam no mesmo local, sofreram as mesmas condições ambientais. Não era um estágio de decomposição extremamente avançado”, diz Valle.

Segundo ele, também há relatos de testemunhas que encontraram as carcaças e disseram que não tinha nada ali, antes do momento em que foram encontradas. “É uma investigação que foi feita com todos os fatores, conversando com as testemunhas, com as pessoas que encontraram, toda uma análise investigativa para que a gente pudesse elaborar essa nota técnica e chegar a essas conclusões”.

O documento aponta, ainda, que as carcaças apresentavam marcas características de interação com redes de pesca, como lesões lineares bem demarcadas na epiderme e escoriações nas extremidades.

“Essas marcas são características, não são marcas que são feitas por outros equipamentos ou por outras causas. É um tipo de marca característica e indicativa de rede, e foi isso que as análises indicaram”, afirma o coordenador.

Outro tipo de lesão encontrado nas carcaças foi a ausência do ferrão em algumas das raias. “Eram carcaças que tinham lesões de corte de retirada de ferrão, então, são características de que não foi um encalhe natural. O tipo de lesão foi feito provavelmente com uma lâmina cortante”.

Segundo Valle, não dá para afirmar o motivo de os ferrões de algumas das raias terem sido arrancados. “É uma prática comum em duas situações, uma para poder manipular o animal sem correr o risco de se machucar. Às vezes, está enroscado na rede, e isso é feito para retirá-lo, não só para facilitar que o ferrão não fique preso na rede como a manipulação, e evitar que ocorra algum acidente. E também é uma prática comum em animais que vão ser processados e encaminhados para consumo”.

A Prefeitura de Peruíbe disse em nota, que a fiscalização da pesca não é atribuição da administração municipal, e que quando é constatada alguma possível irregularidade, os órgãos municipais acionam a Polícia Ambiental, que deve realizar as operações de fiscalização, que foi o que aconteceu neste e em outros casos.

Pesca acidental

Para o coordenador do instituto, muitas vezes, esses animais não são alvos de pesca, mas acabam sendo capturados acidentalmente. “A pesca não é da raia e do tubarão, o pescador não vai lá para pegar eles, isso é uma captura acidental, e acontece com vários animais, às vezes golfinhos, tartarugas, algumas aves, como pinguins, por exemplo, que se enroscam [nas redes]”.

“O que precisa é buscar e utilizar técnicas e tipos de rede que permitam que esses animais possam ser retirados da rede e devolvidos ao mar antes que eles venham a óbito”, completa.

Ainda de acordo com Valle, a nota técnica foi encaminhada ao poder público, para que as autoridades possam também buscar medidas para melhorar a fiscalização. “Que possam ajudar a fazer com que apenas aqueles pescadores que atuam dentro da lei e com técnicas permitidas possam atuar. Nosso objetivo foi realmente que a gente pudesse subsidiar as autoridades e o poder público, para que eles busquem medidas para melhorar essa situação”, conclui.

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